Quando a Terra alcançou o ponto de sua órbita que caracteriza o início da primavera, a sonda robótica Deep Space 1 (DS1), em português Espaço Profundo 1, estava realizando uma missão-bônus de altíssimo risco: "ouvir o coração" de um cometa. Lançada em outubro de 1998, a pequena sonda de 474 kg testou nada menos que doze novas tecnologias em sua missão principal (concluída em outubro de 1999) para o planeta Marte e o asteroide Braille (1992 KD).
Às 22:30 UTC deste 22 de setembro, (19:30 hora de Brasília) a DS1 passou a apenas 2.000 km do núcleo do cometa Borrelly. Os riscos eram tão altos que os resultados seriam imprevisíveis. O cometa Borrelly passou pelo periélio no último dia 14, e qualquer partícula ejetada do núcleo poderia atingir a sonda a mais de 16 km/s. Mas a aventura valeu o risco e a DS1 superou as espectativas, obtendo imagens em preto e branco da superfície, além de imagens em infravermelho, campos magnéticos e ondas de plasma ao redor do núcleo. Será como "ouvir o coração" e "sentir o cheiro" do cometa.
A sonda de 152 milhões de dólares foi a primeira a testar uma tecnologia do futuro: a propulsão iônica. Um motor usa o gás xenônio como combustível; a eletricidade gerada por painéis solares passa pelo gás, produzindo partículas carregadas negativamente, os íons. Uma tensão elétrica aplicada muda a carga, e as partículas (agora positivas) são impulsionadas, fazendo a nave atingir velocidades de até 35 km/s. A força, no entanto, é equivalente a requerida para segurar uma folha de papel sobre a mão — e levou meses até a DS1 atingir velocidade total. No momento o motor é adequado apenas para pequenas sondas não tripuladas. |