No início da década de 1980 o projeto do ônibus espacial soviético estava quase parado devido a atrasos e problemas financeiros. E o mundo ocidental mostrava alguma incerteza acerca do papel do Buran. Sua função principal parecia ser uma resposta militar ao ônibus espacial norte-americano.
Coincidência ou não, no final de 1985 o ônibus espacial Challenger passou sobre a União Soviética diminuindo sua altitude ao sobrevoar Moscou. Foi quando as autoridades russas reagiram, retomando o desenvolvimento do Buran.
Assim mesmo os progressos eram lentos. Um dos motivos era a distribuição das equipes de trabalho, com fábricas de diversas partes do país. Havia também a demora na definição do projeto final – só entre 1976 e 1987 foram realizadas cerca de 32 mil modificações.
Diferenças marcantes
Devido as semelhanças, houve quem especulasse sobre a possibilidade de espionagem (caso dos aviões supersônicos Tupolev e Concorde). Mas hoje se sabe que embora o ônibus espacial norte-americano e o soviético fossem muito parecidos externamente, internamente tudo foi criado e desenvolvido separadamente em cada um deles.
No caso do Buran, as principais diferenças são a aterrissagem automática e a ausência do motor principal, que ficou no foguete Energia, uma alteração que possibilitaria colocar em órbita até 120 toneladas de carga útil, contra as 30 toneladas do ônibus espacial norte-americano.
Outra diferença é a proteção térmica. Com suas quase 40 mil placas, o sistema russo foi projetado para suportar cerca de 100 voos. Sendo que a cobertura utiliza materiais que ultrapassavam em muito a resistência daqueles utilizados na nave norte-americana.

COMPARAÇÃO VISUAL das dimensões do Buran (à direita) com o ônibus espacial norte-americano (e seus lançadores). Fonte: aerospaceweb.org
Voo inaugural
Finalmente, na madrugada de 15 de novembro de 1988, o Buran foi acoplado ao foguete Energia e transportado para uma plataforma de lançamento construída especialmente para ele. Sua enorme estrutura de 2.400 toneladas foi içada até ficar na posição vertical. O tempo parecia não querer ajudar, chovia intensamente e a temperatura estava perto de zero grau Celsius.
Mas tão logo as condições do tempo melhoraram foi dada a permissão para continuar os procedimentos para o lançamento. Eram 6 horas, hora de Moscou, quando os motores principais do foguete Energia se incendiaram. Alguns minutos depois, após atingir sua potencia máxima, ele começou a subiu lentamente em direção ao céu negro.
O Buran entrou em órbita da Terra, passando a girar em volta do nosso planeta entre 200 e 1.000 km de altura. Pouco tempo depois ele reentrou na atmosfera no ângulo correto e pousou em Baikonur, na Rússia – a primeira base de foguetes do mundo. Tudo realizado de forma autônoma pela nave, que acabou jamais indo ao espaço com uma tripulação.
É que todo o entusiasmo do voo inaugural deu lugar à decepção. Tentou-se, em vão, conseguir uma autorização para um voo tripulado, mas a crise econômica e as reformas realizadas na União Soviética não deixaram folgas para o programa espacial, que quase entrou em colapso. Em 30 de junho de 1993 o Projeto Buran foi oficialmente cancelado pelo então presidente Boris Yeltsin.
Triste fim
O programa teria impulsionado orgulho nacional (em baixa nos meados da década de 1990), desenvolvido pesquisas e avanços tecnológicos semelhantes ao do ônibus espacial norte-americano e teria sido de grande valia na construção da Estação Espacial Mir, que permaneceu em órbita durante 15 anos.
O golpe de misericórdia veio em maio de 2002, quando o telhado de um hangar em Baikonur ruiu, destruindo o último Buran que permanecia inteiro (os demais já haviam sido vendidos como sucata). Era o triste fim de um dos mais notáveis capítulos da corrida espacial.

DESTROÇOS DO BURAN são vistos nessa foto, que mostra parte do que restou após o colapso do telhado do hangar 112 em Baikonur. Fonte: aerospaceweb.org
ATUALIZAÇÃO: Três protótipos do Buran foram recentemente restaurados do Cosmódromo de Baikonur. O protótipo OK-GLI está hoje no Museu do Automóvel e da Tecnologia de Sinsheim, Alemanha. Um segundo protótipo (OK-TVA) foi restaurado e é uma das principais atrações do Parque Gorky, em Moscou. O terceiro protótipo é o Buran 2.01, que estava na fábrica de Tushino, em Moscou. Ele também foi adquirido pelo museu de Sinsheim, onde será preservado. Fonte: Wikipédia.
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