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Astronomia no Zênite
Sistema Solar

Segredos do distante Plutão

Em 1978, o americano James Christy do US Naval Observatory descobriu que Plutão também tinha um satélite natural, mais tarde chamado Caronte, o barqueiro da Mitologia grega que conduzia as almas dos mortos na travessia do rio que as separavam do reino de Plutão.

Até a descoberta de Caronte acreditava-se que Plutão era muito maior, comparável com a Terra. Era isso que se esperava de um astro que poderia causar perturbações na órbita de Netuno. Com a descoberta de Caronte e observações mais apuradas, as estimativas foram dramaticamente alteradas – para baixo.

Caronte, Plutão e o Brasil em escalaCaronte, Plutão e o Brasil em escala.

Quase num piscar de olhos, Plutão deixou de ser um gigante rochoso, transformando-se num mundo minúsculo – o menor planeta do Sistema Solar – menor até mesmo que muitos satélites, incluindo a Lua. Mais algum tempo e Plutão deixaria até mesmo de ser considerado um planeta.

Um astro diferente

Por muito tempo pairavam dúvidas sobre a verdadeira natureza de Plutão. Observações revelaram que o planeta sofre grandes variações de albedo, a grandeza que indica a quantidade de luz refletida por um astro iluminado.

Além disto, Plutão tem uma órbita altamente excêntrica e bastante inclinada com relação ao plano da órbita terrestre, ou eclíptica. Nenhum outro planeta tem aspectos orbitais semelhantes. Suas características eram típicas de asteroides, e isso levou alguns cientistas a começar a pensar que Plutão não era um planeta.

O pequeno e distante Plutão compartilha com o gigante Netuno a fronteira do sistema solar a distância média de 6 bilhões de quilômetros do Sol. É preciso esperar longos 248 anos para Plutão completar uma volta em torno do Sol. Plutão tem uma rotação retrógrada, girando em torno de seu próprio eixo no sentido oposto ao da maioria dos planetas do sistema solar.

Durante algum tempo, o astro pode ficar mais perto do Sol do que Netuno, devido ao formato de sua órbita. Mas o período orbital de Plutão é exatamente 1,5 vezes mais longo que o de Netuno, e isso os impede de colidirem um com o outro.

A órbita de Plutão
DE PERFIL  A órbita de Plutão é inclinada 17 graus em relação a eclíptica.

Cinco luas

Em junho de 2005 o Telescópio Espacial Hubble ajudou a encontrar mais duas luas em volta de Plutão. Chamadas Nix e Hidra, elas são minúsculas, com diâmetros estimados entre 48 e 165 quilômetros, e percorrem órbitas bem mais afastadas de Plutão que a lua Caronte. Em 2011 uma quarta lua foi encontrada também pelo Hubble. Ela foi batizada de Cérbero. Por fim, em 2012, descobriu-se a quinta, chamada Estige.

Ainda pouco se sabe a respeito da atmosfera de Plutão. O material que a compõe existe na forma de gás apenas quando o astro está próximo de seu periélio, o ponto de maior aproximação com o Sol. É provável que nessa ocasião parte de sua atmosfera chegue a escapar para o espaço, inclusive interagindo com Caronte.

Durante a maior parte do ano plutoniano, entretanto, sua atmosfera permanece congelada na formidável temperatura de 233°C negativos. Mais uma vez isto revela uma característica incomum aos planetas, fazendo Plutão parecer mais com um grande cometa longe do Sol.

Mais dúvidas surgiram com a descoberta de pequenos asteroides nas proximidades de Plutão, formando o agora conhecido Cinturão de Kuiper, que se estende de 6 a 24 horas-luz do Sol (1 hora luz é a distância que a luz percorre em 1 hora: cerca de um bilhão de quilômetros).

ComparandoA DESCOBERTA de Éris mudou o status de Plutão.

Seria Plutão simplesmente o maior asteroide desse grupo? Estariam confundindo Plutão com um planeta, do mesmo modo que, durante anos, pensou-se que Ceres era um planeta?

PATRONO
Urania Planetario

Planeta anão

Apesar dos cometas terem atmosfera temporária, eles são astros muito pequenos, com poucos quilômetros. Sua principal característica, sem dúvida, são as longas caudas que se formam quando estão mais perto do Sol. Os asteroides compartilham com Plutão a semelhança de uma órbita excêntrica e inclinada, mas geralmente são corpos muito menores, com formas irregulares e sem atmosfera.

Mesmo assim, o termo “planeta” não estava definido apropriadamente. E se fosse descoberto um astro no Cinturão de Kuiper com massa e diâmetro apenas ligeiramente superiores a Plutão? E se fossem descobertos vários objetos assim? Quantos planetas existiriam? O que é, exatamente, um planeta?

Éris e sua lua DisnomiaConcepção artística de Éris e sua lua Disnomia.

As respostas não tardaram muito a surgir. Em 2005, o astrônomo Michael Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, descobriu Sedna, um astro tão longínquo que faria Plutão parecer nosso vizinho. Sedna chegou a ser aclamado como o décimo planeta do Sistema Solar, mas ele era um pouco menor que Plutão e a discussão não prosperou.

Só que no mesmo ano, o mesmo Michael Brown descobriu Éris e sua lua Disnomia. Éris é o primeiro (até agora único) objeto do Cinturão de Kuiper cujas dimensões ultrapassam Plutão. Poder-se-ia optar por classificar Éris como um novo planeta, mas havia uma solução melhor.

Em 24 de agosto de 2006, numa conferência da União Astronômica Internacional, foi criada uma definição mais formal de planeta, e uma subcategoria deles, os planetas anões, nova classe de objetos cujos primeiros integrantes seriam Éris, Plutão e Ceres.

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Visão aprimorada

Há duzentos anos, o Cinturão de Asteroides (hoje Cinturão Principal) era uma grande novidade. Não se fazia ideia da existência de uma outra região de pequenos corpos (o Cinturão de Kuiper). Inúmeras outras descobertas importantes também contribuíram para uma visão muito mais aprimorada do nosso sistema planetário. Por isso, é natural que ele tenha ficado mais complexo.

O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry

Mas houve quem não gostasse da re-classificação de Plutão (inclusive no meio científico). Junto ao público em geral, foi como se os astrônomos tivessem retirado o corpo celeste do Sistema Solar – e só porque ele era pequeno. Sem falar na astrologia, que havia incorporado Plutão nos horóscopos depois de 1930, e não será surpresa alguma se no futuro alguns signos forem regidos pelos planetas anões.

O fato é que no distante e gélido Plutão não crescem rosas, como no fictício asteroide B612, do livro “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. Impossível de observar a olho nu, Plutão permanece longe de nossos olhos, desafiando nossa inteligência e credulidade. Talvez apenas para lembrar que “visão é a arte de enxergar as coisas invisíveis”. Artigo de Astronomia no Zênite

 

Os planetas anões
Plutão – Na periferia gelada

Publicação em mídia impressa
• Costa, J. R. V. Distante Plutão. Tribuna de Santos, Santos, 2 jun. 2003. Caderno de Ciência e Meio Ambiente, p. D-4.
Créditos: Costa, J.R.V. Segredos do distante Plutão. Astronomia no Zênite, jun. 2003. Disponível em: <https://zenite.nu/segredos-do-distante-plutao>. Acesso em: 20 abr. 2024.
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