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Astronomia no Zênite
História - Astronomia do erro

Os segredos de Marte

Marte, o Planeta Vermelho, é sem dúvida um mundo especial. Há tempos vem despertando a curiosidade e, principalmente, a imaginação das pessoas. Não é para menos. Ao contrário da Lua, Marte tem atmosfera, estações do ano e um dia com pouco mais de 24 horas.

Melhor que isso: existe água lá. Hoje toda ela se concentra nas regiões polares do planeta, abaixo de uma camada de gelo de gás carbônico. Mas num passado distante, é bem provável que Marte tenha tido oceanos de água líquida e então, talvez, alguma espécie de vida tenha se desenvolvido.

PATRONO
Urania Planetario

Quando tudo começou

No final do século XIX tinha-se como certo que Marte era o lar de uma civilização muito mais avançada que a nossa, lutando bravamente pela sua sobrevivência num planeta onde havia severas mudanças climáticas e escassez de água.

Tudo isso começou com as observações do astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910). Ao telescópio, ele notou uma série de linhas finas que uniam áreas escuras na superfície do planeta, como canais naturais que unem regiões alagadas. Schiaparelli as chamou de canali. Mas o termo foi traduzido para o inglês channel, que significa canal artificial.

Canais
CANAIS de Marte, desenho do século XIX.

O recém-construído canal de Suez representava um marco na engenharia mundial, e até mesmo renomados cientistas, como o americano Percival Lowell, entusiasmaram-se com os “engenheiros marcianos”.

Lowell construiu um observatório com recursos próprios, onde durante quinze anos viu os canais de Schiaparelli e imaginou que serviam para trazer água dos polos para irrigar as regiões equatoriais.

Os canais de Marte foram uma “realidade” por muitos anos, até que, com o aperfeiçoamento dos instrumentos óticos e o envio de sondas espaciais ao planeta, descobriu-se que eles simplesmente nunca existiram.

A interpretação errônea de dados observacionais – aliada ao forte desejo de encontrar vida inteligente – tinham criado os canais e seus construtores.

Percival Lowell
Percival Lowell (1855-1916).

A transformação da Face

Porém, nem mesmo as sondas espaciais que pousaram em Marte foram capazes de torná-lo um lugar comum. Quando em 1976 a nave Viking entrou em órbita ao redor de Marte foi obtida uma curiosa imagem, numa região do planeta chamada Cydonia, que reacendeu as esperanças de quem acreditava em vida inteligente no Planeta Vermelho.

Desmascarando a Face de Marte

Em meio a algumas crateras e montes comuns, uma formação era incrivelmente semelhante a um rosto humano ficou conhecido como “A Face”.

Teria sido construída por uma antiga civilização marciana? Poucos acreditaram em mera coincidência. Os olhos, o nariz e a boca inevitavelmente lembravam um rosto (veja Figura 1 à direita). Para alguns era a face de Cristo. Tinha de ser artificial.

Para piorar um funcionário do projeto descartou a foto, obtida sob céu nublado, considerando-a mera ilusão provocada por um jogo de luz e sombra. Isso bastou para surgir a acusação de que a NASA estaria escondendo evidências de extraterrestres.

Naquela época não havia como confirmar as fotos da Viking. Foi uma longa espera até 1998, quando a Mars Global Surveyor tornou-se a primeira sonda a retornar com sucesso a Marte.

Em 5 de abril daquele ano, os instrumentos da sonda, naturalmente muito mais modernos e sofisticados, mostraram uma imagem totalmente diferente. Com uma resolução de 4,3 m por pixel, dez vezes a resolução da melhor imagem da Viking, o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) nos Estados Unidos revelou apenas mais uma montanha corroída pelos fortes ventos marcianos.

Mas nem todos ficaram satisfeitos. A foto da Surveyor foi obtida sobre um céu de inverno e talvez alguma névoa pudesse ter atrapalhado outra vez, deixando algum vestígio alienígena encoberto.

Então eles fizeram de novo – e melhor. Não foi tão simples, porque a sonda não sobrevoa a região da Face com frequência. Mas o esforço valeu a pena. A nova imagem tem resolução de 1,56 m por pixel e revela a verdadeira natureza da Face: uma formação geológica chamada mesa, também existente na Terra.

Os dados de uma altimetria a laser são ainda mais eficientes. Mapas de elevação em 3D mostram a formação por qualquer ângulo: e nada de olhos, nariz ou boca.

Face de Marte
PERSPECTIVA EM 3D da “Face de Marte” produzida pela NASA em 8 de abril de 2001 por meio de altimetria a laser.

Marte, porém, continua desafiando nossa inteligência. E não está sozinho. Johannes Kepler especulou que, como a Terra tinha uma lua e Júpiter tinha quatro conhecidas em seu tempo, Marte poderia ter duas luas, já que sua órbita fica entre a da Terra e a de Júpiter.

Em 1726, Jonathan Swift, possivelmente influenciado por essa especulação, escreveu em “As Viagens de Guliver” que os astrônomos da fictícia cidade de Liliput descobriram “duas estrelas menores, ou satélites, girando em torno de Marte” com revoluções de 10 e 21,5 horas.

Na vida real, foi somente em 1877 que Asalph Hall descobriria Fobos e Deimos, os satélites de Marte, cujos períodos orbitais são de 7,5 e 30 horas, respectivamente. Bela precisão para um palpite antecipado em 150 anos! Artigo de Astronomia no Zênite

 

Jonathan Swift and the moons of Mars  
Marte, a próxima parada

Publicação em mídia impressa
Costa, J. R. V. Os segredos de Marte. Tribuna de Santos, Santos, 13 mai. 2002. Caderno de Ciência e Meio Ambiente, p. D-4.
Créditos: Costa, J.R.V. Os segredos de Marte. Astronomia no Zênite, abr. 2003. Disponível em: <https://zenite.nu/os-segredos-de-marte>. Acesso em: 19 abr. 2024.
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