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Astronomia no Zênite
Sistema Solar

Os planetas anões

O Sistema Solar é um conjunto com vários tipos de objetos. Há os cometas, um núcleo de gelo sujo de onde se estendem belas caudas (mas que não devemos confundir com os meteoros ou “estrelas cadentes”), os asteroides, rochas irregulares feito batatas, e os planetas que são redondos como as suas luas. Todos eles – exceto as luas – giram em volta do Sol, que é uma estrela.

Geralmente os asteroides são maiores que os cometas enquanto os planetas são sempre maiores que suas luas. Mas definir com precisão cada uma dessas classes de objetos raramente é uma tarefa simples. Não basta conhecer bem a natureza de cada um, suas características próprias, como tamanho, forma e composição. Contexto e localização são igualmente importantes.

Ganimedes, uma das 95 luas de Júpiter, é redonda, rochosa e maior que o planeta Mercúrio. Mas gira em torno de Júpiter e por isso é um satélite e não um planeta. Nenhuma dúvida quanto a isso.

Planeta X

Mas o caso de ceres foi diferente. Descoberto em 1801, ele parecia mesmo o planeta que faltava naquele espaço aparentemente vazio entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Porém, novos achados puseram em dúvida essa classificação. Pallas em 1802, Juno em 1804, Vesta em 1807… Quase todos os anos eram descobertos novos objetos em órbitas similares a de Ceres.

PRECISA SER REDONDO?

O termo correto é esférico, embora na prática nenhum corpo celeste seja uma esfera perfeita. Depois de adquirir uma certa quantidade de massa, a gravidade faz o resto do serviço e o objeto torna-se aproximadamente esférico.

Ceres é assim; diferentemente da maior parte dos asteroides que são menores e, portanto, não acumularam massa suficiente para que a gravidade lhes dê esfericidade.

Muitos satélites (mas nem todos!) também são esféricos. Na verdade não é necessário o critério da esfericidade para distinguir um planeta de outro tipo de objeto.

Por fim, a comunidade científica decidiu acatar a sugestão do astrônomo inglês William Herschel e Ceres entrou para uma categoria recém-criada de objetos – os asteroides. A essa altura meio século havia se passado desde que Ceres fora descoberto e aclamado como mais um planeta do Sistema Solar.

Asteroides
EM VÁRIOS FORMATOS  Os asteroides pertencem a uma população distinta. Se ainda fossem considerados planetas, as crianças teriam sérias dificuldades na escola: decorar mais de 130 mil “planetinhas”.

No ano de 1850 contávamos 8 planetas no Sistema Solar. E teríamos de esperar 80 longos anos até que o americano Clyde Tombaugh descobrisse Plutão (1930). Sua descoberta foi recebida pelos pesquisadores como o tão procurado “Planeta X”, um astro causador de estranhas perturbações na órbita de Netuno.

Anomalias

Logo se percebeu que ele era pequeno demais para ter tamanha responsabilidade. Milhares de vezes menor. Plutão, o menor planeta do Sistema Solar – menor até mesmo que a nossa Lua – não tinha massa suficiente nem para provocar cócegas em Netuno.

Mas naquela época não havia como saber muito sobre ele. Quase quarenta vezes mais longe do Sol que a Terra, Plutão leva penosos 248 anos para completar um único ano, uma só volta em torno do Sol. Com uma curiosidade: ele passa internamente à órbita de Netuno, perdendo o trono de planeta mais distante do Sol de tempos em tempos.

E afinal as tais anomalias da órbita de Netuno não passavam de observações mal interpretadas. Ao contrário de Plutão, com sua órbita excêntrica e bastante inclinada com relação ao plano da órbita terrestre – algo típico dos asteroides. Durante décadas Plutão foi um “planeta irregular”.

PATRONO
Urania Planetario

Xena versus Plutão

A situação começou a mudar quando os astrônomos reconheceram Plutão como membro de uma nova população de objetos descoberta além da órbita de Netuno, o Cinturão de Kuiper. Seus integrantes são comumente chamados de KBOs, sigla que vem do inglês Kuiper Belt Objects, objetos do Cinturão de Kuiper, ou ainda TNOs, trans-Neptunian objects, objetos trans-netunianos.

Alguns objetos dessa região se tornariam conhecidos do público. Como Sedna, descoberto em 2003 por Michael Brown, astrônomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Pouco menor que Plutão, ele chegou a ser aclamado como o décimo planeta do Sistema Solar, mas quem levou mesmo essa fama foi outra descoberta de Brown, feita dois anos depois.

Mas em 2005 essa descoberta sequer tinha um nome, e a imprensa teve que se contentar com o código do novo corpo celeste: 2003 UB313. Até que Brown o apelidou de Xena, ao confessar que era fã do seriado da TV “Xena: Warrior Princess“, de Robert Tapert. Xena Também tinha um satélite, rapidamente chamado Gabriele, a companheira de aventuras de Xena.

Xena
XENA DESAFIA PLUTÃO  A atriz Lucy Lawless interpretou a “princesa guerreira”, na série levada ao ar entre 1995 e 2001.

Mas na vida real um fato incomodava bastante os astrônomos: Xena é maior que Plutão. Até então, simplesmente não havia uma definição formal de planeta, sendo aceito na categoria todo astro que gira em torno do Sol e possui no mínimo massa igual à de Plutão (o que invariavelmente lhe confere uma forma arredondada).

Deusa da discórdia

Assim, se Xena não fosse um planeta, Plutão também não seria. Por outro lado, transformar o objeto descoberto por Brown no décimo planeta do Sistema Solar poderia ser a repetição de um erro histórico. Novas descobertas aumentariam esse número indefinidamente.

Era o começo de uma história que já havia sido contada antes. O status de um “planeta consagrado” estava sendo questionado outra vez. O precedente não foi somente Ceres. Por mais incrível que pareça, no passado a Lua e o Sol já haviam sido classificados como planetas!

Também foi escolhido o nome oficial de 2003 UB313. Apesar do apelido ser até simpático, a decisão não poderia ter sido melhor. De agora em diante, Xena será Éris, a deusa da mitologia que personifica a discórdia. Afinal, foi sua descoberta que lançou polêmica entre os astrônomos sobre a definição de planeta, causando, indiretamente, a reclassificação de Plutão.

A classificação atual de Plutão ainda é dúbia

Seu satélite também passa a ser chamado Disnomia – “desordem” em grego – a filha da deusa Éris. Curiosamente, Disnomia também remete ao termo em inglês lawlessness (anarquia), perpetuando a ligação com atriz que interpretava Xena, Lucy Lawless.

O sistema Éris-Disnomia é semelhante ao sistema Terra-Lua. Apesar das dimensões mais reduzidas, o satélite de Éris está dez vezes mais próximo do planeta que a Lua da Terra. Estima-se que Disnomia seja oito vezes menor e sessenta vezes menos brilhante que Éris e leve 14 dias para completar uma volta em torno dele.

Fazendo ciência

O resto é notícia. Reunidos em Praga em 24 de agosto de 2006, astrônomos decidiram pela criação de uma nova categoria de objetos: os planetas anões. Nele se enquadram, de uma só vez, Éris, Plutão e também Ceres – que de planeta em 1801, havia passado a asteroide em 1852, e então mudou novamente de categoria.

Muita gente não gostou, embora, rigorosamente falando, a classificação atual continue sendo dúbia (afinal, a palavra “planeta” ainda aparece no termo “planeta anão”). Talvez fosse mais apropriado criar uma categoria que não fizesse referência a essa palavra.

O termo “planeta anão” soa como se Plutão fizesse parte de um “subconjunto do conjunto dos planetas”, embora se contem atualmente 8 (oito) planetas “regulares” no Sistema Solar. E Plutão não é um deles.

Historicamente, classificamos os planetas em rochosos (também chamados terrestres ou telúricos), que são Mercúrio, Vênus, Terra e Marte; e gasosos (jovianos ou gigantes), que são Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Agora também temos os planetas anões, onde encaixamos Plutão.

Plutóides

Pode ser que a nova classificação não dure muito (embora seja improvável que Plutão volte a ser considerado um planeta “regular”), pois há muita discussão dentro da própria comunidade astronômica.

Não poderia ser diferente. Os cientistas precisam de definições cuidadosas, que refletem nosso entendimento da natureza. Se uma nova descoberta torna um velho conceito obsoleto, é preciso revisá-lo – e estamos vivendo um momento em que nossa visão do Sistema Solar está passando por uma revisão revigorante.

Passados dois anos da Assembléia Geral da União Astronômica Internacional, em Praga, foi escolhido um nome para os objetos trans-netunianos que fossem similares a Plutão: os “plutóides”. A denominação, porém, quase não vem sendo usada. Nem soa muito bem no nosso idioma…

Sete anões
SETE ANÕES  Os chamados planetas anões são menores que muitas luas do Sistema Solar, mas ainda mantêm o status de planeta porque giram em volta de uma estrela.

Teoria dos conjuntos

Fim da história? Só se o mundo tivesse acabado. A Astronomia é uma Ciência e nenhuma Ciência está terminada. As definições continuam evoluindo com o tempo.

A Ciência é uma ferramenta para o entendimento da natureza e não um conjunto de declarações sobre como a natureza deve ser. Todo esse debate fornece aos educadores um excelente exemplo de como funciona o “método científico”.

Maiores KBOsOS MAIORES KBOs. Clique na imagem para ampliar.

E por falar em conjuntos, para o seu conhecimento, nesse intrincado mini-universo que chamamos de Sistema Solar, temos até aqui uma estrela, oito planetas, cinco planetas anões, mais de 150 satélites e milhares de asteroides (principalmente entre Marte e Júpiter e depois de Netuno). Há os cometas também, é claro. É que eles não deram tanta dor de cabeça até agora. A não ser para os dinossauros… Artigo de Astronomia no Zênite

 

O cinturão de Kuiper
Misterioso Sedna

Referências (fontes consultadas)
• Scientific American – Brasil. n 57. São Paulo: Duetto Editorial, 2007. p. 30-37.
Publicação em mídia impressa
• Costa, J. R. V. Os planetas anões. Tribuna de Santos, Santos, 12 mar. 2007. Caderno de Ciência e Meio Ambiente, p. D-2.
Créditos: Costa, J.R.V. Os planetas anões. Astronomia no Zênite, mar. 2007. Disponível em: <https://zenite.nu/os-planetas-anoes>. Acesso em: 25 abr. 2024.
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