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Astronomia no Zênite
Astronáutica - Os pioneiros

O fabuloso N1 – 3ª Parte

 Final

No final de 1967 vinte cosmonautas iniciam os treinos para um voo lunar. A seleção final é repartida entre a Força Aérea Soviética (10 pilotos-cosmonautas) e o OKB-1 (10 engenheiros cosmonautas).

Após anos de reestruturações o N1 atinge a sua configuração final. O super foguete é um veículo composto por cinco estágios que utilizam oxigênio líquido e querosene como propelentes.

Nositol 1
O Nositol 1, com o Block A (e seus 30 motores) em primeiro plano.

Block A

O primeiro estágio do N1, designado como Block A, tem um peso bruto de 1.880 t (sem combustível chegava a 130 t). Seus 30 motores possuem uma força de 5.130.000 kgf, atingindo um impulso específico de 330s com um tempo de queima de 125 s. Cada um deles possuí um diâmetro máximo de 10,3 metros e um comprimento de 30,1 metros.

Block B

O segundo estágio, ou Block B, tem um peso bruto de 560,7 t (55,7 t sem combustível). Os 8 motores atingem uma força de 1.431.680 kgf, com um impulso específico de 346s e um tempo de queima de 120 s. O seu diâmetro era de 6,8 metros e o seu comprimento de 20,5 metros.

Block V

O terceiro estágio, ou Block V, tem um peso bruto de 188,7t (13,7 t sem combustível). Os 4 motores atingem uma força de 164.000 kgf, com um impulso específico de 353s e um tempo de queima de 370 s. Seu diâmetro era de 4,8 metros e o seu comprimento de 14,1 metros.

Block G

O quarto estágio do N1, Block G, possuía um único motor que atingia uma força de 45.479 kgf, com um impulso específico de 353s e um tempo de queima de 443 s. Tinha um peso bruto de 61,8 t (6 t sem combustível). Tinha um diâmetro de 4,4 metros e um comprimento de 9,1 metros.

Block D

Por fim, o quinto estágio do N1, chamado Block D, possuía um motor que atingia uma força de 8.500 kgf, com um impulso específico de 349s e um tempo de queima de 600 s. Tinha um peso bruto de 18,2 t (3,5 t sem combustível).

Tinha um diâmetro de 2,9 metros e um comprimento de 5,7 metros. Assim no total, o N1 tinha um comprimento de 105,0 metros, um peso bruto de 2.735.000 kg e desenvolvia uma força de 4.400.000 kgf no lançamento. Seria capaz de colocar 70 t numa órbita terrestre a 225 km de altitude e com uma inclinação de 51,6º em relação ao equador terrestre.

Com oito meses de atraso em relação ao plano traçado, o enorme veículo é colocado na plataforma de lançamento.

Estava previsto um voo de teste, mas ele foi adiado quando se descobriram fissuras no tanque de oxigênio do primeiro estágio do lançador. Em 21 de fevereiro de 1969 o veículo N1-3L seria, finalmente, lançado.

N1-7L
A primeira imagem revelada do N1. Neste caso o veículo N1-7L.

Primeiro voo

A ignição dos motores do primeiro N1 (N1-3L) dá-se às 09:18 UTC, mas devido a elevadas oscilações do motor nº 2 do primeiro estágio, alguns de seus componentes começaram a ceder, fato que originou fuga de combustível.

O sistema de controle detectou incêndio, mas enviou uma ordem incorreta para desativar todos os motores aos 68,7s de voo. O veículo acabaria por ser destruído aos 70s de voo, não havendo a hipótese de resgatar a carga (uma cápsula Soyuz) devido ao mau funcionamento do sistema de emergência do lançador. Curiosamente este lançamento foi detectado pelos serviços secretos britânicos, mas a CIA negou sua ocorrência durante vários anos.

A falha foi atribuída as temperaturas muito mais elevadas do que era previsto. Este problema foi posteriormente resolvido colocando o sistema de controle no compartimento inter-tanque e criando orifícios de ventilação no compartimento dos motores do primeiro estágio, por baixo do sistema de alimentação de combustível.

Acidente em Baikonur
A dramática sequência de eventos que resultou no pior acidente da história de Baikonur. A explosão que se seguiu destruiu quase todo o complexo.

O segundo voo

O segundo N1 (N1-5L) foi lançado em 3 de julho de 1969, a apenas 13 dias do lançamento da missão lunar americana Apollo 11.

A ignição dos motores dá-se às 20:18 UTC, e os problemas começam menos de meio segundo depois, quando um pedaço de metal entrou na bomba de pressão do motor n.º 8 no primeiro estágio, originando uma explosão. Viu-se um grande incêndio à medida que o veículo ganhava altitude.

O sistema de controle desativou os motores até que a aceleração do N1 foi inferior a 1G e o veículo começou a cair sobre a plataforma de lançamento.

O N1 caiu inclinado 45º em relação à vertical de voo. Após o impacto deu-se uma violentíssima explosão que destruiu por completo a plataforma 110E e danificou a plataforma 110W a 500 metros de distância, destruindo também um modelo que lá se encontrava.

A torre de emergência conseguiu resgatar o veículo Soyuz da deflagração, mas iria demorar dois anos até que a plataforma 110E voltasse a ficar operacional. A investigação deste acidente iria resultar em modificações substanciais no N1, mas a corrida para a Lua já estava perdida.

Procurava-se agora outros objetivos para o N1, tal como o estabelecimento de uma base lunar permanente, a LEK. Em 24 de setembro de 1969 um novo N1 foi colocado na plataforma para testar sua estrutura.

Foi o primeiro N1 a ter uma pintura totalmente branca desde a sua base e até à torre de emergência. A pintura utilizada anteriormente (cinza e branco) originava temperaturas na ordem dos 60ºC, nos compartimentos situados entre os tanques de combustível, durante o Verão.

PATRONO
Urania Planetario

O terceiro e quarto voos do N1

Quase dois anos após o desastre com o veículo 5L deu-se o lançamento do N1-6L, dia 26 de junho de 1971. O veículo 6L tinha incorporada uma série de filtros nos dutos de combustível para evitar a entrada de objetos estranhos nos motores. A base do lançador foi modificada e foram introduzidos novos sistemas de ventilação e refrigeração.

O voo do 6L parecia correr normalmente nos primeiros momentos, mas depressa se notou uma rotação em torno do seu eixo longitudinal, induzida pela dinâmica dos gases de combustão provenientes dos seus 30 motores em funcionamento do primeiro estágio.

O veículo desenvolveu uma rotação que ultrapassou os limites de compensação do sistema de controle e começou a desintegrar-se à medida que passava pela zona de máxima pressão dinâmica.

O controle foi perdido aos 50,2s de voo e o foguete acabou sendo destruído aos 51,2s. Apesar de mais este desastre, verificou-se que os motores funcionaram bem e que não se desativaram até ao ponto da destruição do lançador. O N1-6L não transportava carga útil e assim também não possuía qualquer sistema de emergência.

Voo do N1: concepção artística
SONHO VERMELHO  O voo bem sucedido do poderoso N1, que nunca aconteceu.

Complexo orbital

No período entre 1972 e 1973 foi iniciado o estudo de um complexo orbital, o MOK. Uma estrutura composta por várias estações espaciais, módulos orbitais e grandes satélites colocados em órbita geoestacionária.

O foguete N1 seria usado para colocar em órbita os dois componentes principais da nova estação MKBS. A órbita da MKBS seria sincronizada com o Sol a 450 km de altitude e teria uma inclinação orbital de 97,5º em relação ao equador terrestre.

Dia 23 de novembro de 1972 dá-se o lançamento do quarto N1 (N1-7L). Este veículo incorporava pequenos motores capazes de compensar possíveis forças de rotação como as que deram origem à destruição do veículo 6L.

A ignição dos 30 motores do primeiro estágio dá-se às 06:11 UTC. O primeiro estágio do N1 completa-se aos 114s de voo. Porém, ocorre uma ruptura num duto de combustível, o que origina a explosão do motor nº 4. Em consequência o veículo é destruído pelo controle de voo antes da separação do primeiro estágio e da ignição do segundo estágio.

EM VÍDEO Lançamento do primeiro N1, em 1969 (narrado em russo).

O fim

Em maio de 1973 o programa é cancelado. Uma nova organização surge com o nome de NPO Energiya e combina os cérebros dos centros de pesquisa OKB-1 e OKB-456. A NPO Energiya é dirigida pelo rival de Korolev, Glushko, que ordena o desmantelamento dos veículos 8L e 9L (que se encontravam quase prontos para voar) e de mais quatro veículos N1 parcialmente montados.

Até à data do cancelamento tinham sido gastos 3,6 bilhões de rubros, dos quais 2,4 bilhões foram investidos no desenvolvimento do N1. A União Soviética perdera a corrida à Lua devido aos três anos de atraso com que a iniciara e somente com uma fração dos fundos disponíveis para o Programa Apollo.

O legado do N1

Todo o trabalho no N1 foi ignorado, sendo iniciado o desenvolvimento de um novo lançador, o Vulkan. Em 17 de fevereiro de 1976 também este projeto é revisto de modo a acomodar o lançamento do ônibus espacial soviético, baseado do desenho do ônibus espacial americano.

Assim surge o foguete Energiya, que realizou o seu primeiro voo 13 anos mais tarde e após um investimento de 14,5 bilhões de rubros. O Energiya acabou por ser cancelado por ordem do presidente Boris Yeltsin, após o colapso da União Soviética.

No entanto, partes do N1 ainda podem voar. Os 150 motores construídos por Kuznetsov foram secretamente armazenados após o cancelamento do programa N1 (apesar das ordens para destruição dos motores).

Todos os N1 foram desmantelados em 1975 e as suas fuselagens foram utilizadas para construir armazéns, abrigos solares em Baikonur, coretos e parques infantis. Artigo de Astronomia no Zênite

 

Os pioneiros
Missões espaciais

Créditos: Barbosa, R.C. O fabuloso N1 - 3ª Parte (Final). Astronomia no Zênite, jul. 2007. Disponível em: <https://zenite.nu/o-fabuloso-n1-3>. Acesso em: 19 abr. 2024.
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