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Astronomia no Zênite
Astronáutica - Os pioneiros

O fabuloso N1 – 2ª Parte

Em julho de 1962 uma comissão governamental reuniu-se para avaliar os projetos apresentados pelos diferentes centros de pesquisa. Os resultados da comissão presidida por Matislav Vsevolodovich Keldysh (1911-1978) foram discutidos por Nikita Sergeyevich Khrushchov (1894-1971) e pelo engenheiro chefe numa reunião realizada em Pitsundo.

Como resultado, Khrushchov ordenou o início de um projeto com o objetivo de colocar em órbita terrestre baixa uma plataforma tripulada equipada com armas nucleares (OS-1). Korolev também autorizou o desenvolvimento imediato do foguete N1.

plataforma orbital OS-1
Representação esquemática da plataforma orbital OS-1 (projeto de 1965). Desenho cedido por Mark Wade (Encyclopedia Astronautica).

Um decreto emitido a 24 de setembro de 1962, formaliza o desenvolvimento do foguete N1 ao mesmo tempo em que estabelece o primeiro de uma série de prazos demasiado otimistas para o desenvolvimento do lançador.

Todos os testes dos motores deveriam ser concluídos nos primeiros meses de 1965 e as plataformas de lançamento deveriam estar prontas no final de 1964, tendo o primeiro lançamento data marcada para o segundo semestre de 1965.

No início de 1964 torna-se aparente que os prazos estabelecidos não serão cumpridos, e estima-se que são necessários mais um ou dois anos no desenvolvimento de todo o sistema.

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Cosmonautas na Lua

O Comitê Central do partido Comunista da União Soviética estabelece pela primeira vez – e através de decreto em 3 de agosto de 1964 – o objetivo de colocar um homem na Lua e traze-lo de volta para a Terra antes dos Estados Unidos (que iniciam a corrida com três anos de avanço). Para atingir tal objetivo será necessário mobilizar todo o complexo militar-industrial.

O centro de Korolev desenvolve um projeto designado L3 para transportar os cosmonautas para a Lua. Este projeto tira partido do método de encontro orbital lunar para concretizar a alunissagem. O mesmo método que seria utilizado pelo programa Apolo.

A ideia de Korolev utiliza um quarto estágio do N1 para inserir o L3 numa trajetória lunar; um veículo orbital lunar com uma cápsula Soyuz modificada para regressar à Terra.

Soyuz 7K-L1
Representação esquemática do veículo Soyuz 7K-L1. Desenho de Mark Wade.

Um veículo lunar capaz de transportar um só cosmonauta à superfície da Lua e um estágio capaz de abrandar a velocidade do L3 e posteriormente efetuar uma alunissagem do veículo lunar.

A queda de Khrushchov…

Durante a missão tripulada Voskhod-1, em 13 de outubro de 1964, Nikita Khrushchov é derrubado do poder enquanto se encontrava de férias na Criméia, e uma facção liderada por Leonid Breznev toma o poder em Moscou. Esta nova situação alteraria por completo o equilíbrio das forças políticas em Moscou.

Os projetos impulsionados por Khrushchov, um avião orbital desenvolvido por Chelomei e a gigantesca estação orbital OS-1 Zvezda (também conhecida por Estação de Batalha Khrushchov) são cancelados.

E a morte de Korolev

Todo o programa espacial soviético sofre um duro golpe em 14 de janeiro de 1966, quando Sergei Korolev morre aos 56 anos. Um câncer em fase terminal põe fim à vida do principal arquiteto espacial soviético.

Korolev foi substituído pelo seu adjunto, Vasili Pavlovich Mishin (1917-2001), mas este não possuía a personalidade forte nem as ligações políticas do grande engenheiro chefe.

No mês seguinte é iniciada a construção da segunda plataforma de lançamento para o N1 (110 W). O projeto lunar continuava o seu desenvolvimento e no mesmo mês verifica-se que o aumento de peso do complexo L3 ultrapassa a capacidade do N1. O foguete teria agora de ser capaz de colocar em órbita 95 t e um novo reajuste no projeto é necessário.

A quantidade de combustível no N1 é aumentada em 2% ao ser introduzida uma seção cilíndrica em cada tanque de combustível, que inicialmente eram esféricos, e decide-se arrefecer os propelentes antes destes serem transferidos para os tanques.

São também introduzidos mais seis motores no primeiro estágio e um aumento de força em cada motor do primeiro, segundo e terceiro estágio, além de quatro estabilizadores aerodinâmicos na base do primeiro estágio.

Todas estas alterações permitiriam aumentar a capacidade de carga do N1, aumentando também a sua massa no lançamento.

Em novembro de 1966 chegam a Baikonur as primeiras partes do primeiro N1 e a construção de um modelo em escala real é também iniciada.

O governo soviético aprova o plano de Mishin que prevê agora o primeiro voo do super foguete em março de 1968.

Em fevereiro de 1967 é aprovado outro projeto que prevê uma alunissagem tripulada no final 1968. O primeiro voo do N1 continuava programado para março de 1968.

Primeiros testes

O primeiro voo dos veículos do programa lunar tripulado acontece no dia 10 de março de 1967, com o lançamento do Cosmos 146, no Cosmódromo de Baikonur.

Lançador N1
DE CORPO INTEIRO  O majestoso lançador N1 em escala.

O foguete lançador funcionou perfeitamente e colocou o Cosmos 146 em trajetória lunar. A missão não tinha como objetivo atingir a Lua e nem os engenheiros tinham planejado a sua recuperação.

O Cosmos 146 acabaria por reentrar na atmosfera terrestre em 18 de março de 1967. O sucesso desta missão criou uma falsa confiança em todo o programa, antecipando a série de fracassos que se seguiriam.

Enquanto isso o desenvolvimento do N1 e de versões mais potentes deste lançador continuavam. Foram construídos modelos de teste dinâmicos prevendo o lançamento de cargas mais pesadas para a Lua.

Antes de sua morte, Korolev programava o uso de oxigênio e hidrogênio líquidos em versões posteriores do N1 de forma a aumentar sua capacidade de carga. O uso de hidrogênio líquido como combustível estava planeado para estágios de pequena dimensão e até 50 t de combustível. Isto permitiria a viagem de três cosmonautas à órbita lunar e a descida de dois deles até à superfície.

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Missões espaciais

Créditos: Barbosa, R.C. O fabuloso N1 - 2ª Parte. Astronomia no Zênite, jul. 2007. Disponível em: <https://zenite.nu/o-fabuloso-n1-2>. Acesso em: 25 abr. 2024.
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