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Astronomia no Zênite
Astronáutica - Missões espaciais

Doze homens e uma conspiração – 10

 MINISÉRIE EM 12 ARTIGOS

O programa Apollo estava perto do auge quando o cineasta Stanley Kubrick e o escritor Arthur C. Clarke se uniram para produzir o filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.

A película foi um marco, não só pelos incríveis efeitos especiais para sua época, mas também porque apresentava uma concepção realista de como poderia ser o futuro da humanidade no espaço.

Tão realista que muitos embarcaram na ideia conspiratória de que a NASA teria encomendado a Kubrick que forjasse imagens de seres humanos caminhando na Lua – pois seria mais barato e viável que enviar os próprios astronautas para o satélite.

Recentemente, o filme “Perdido em Marte” (The Martian, 2015) também impressionou tanto que um número alarmante de pessoas nos Estados Unidos pensa que ele é baseado numa história real e que astronautas americanos já estiveram mesmo em Marte!

Já se disse que o cinema é uma janela para a imaginação. Mas, para muitos, é difícil separar a fantasia de realidade – e muito mais fácil ajudar a propagar boatos sem questioná-los. Assim, há quem aposte, sem pensar muito, que as viagens tripuladas à Lua foram uma fraude.

Esta série especial discute as dúvidas mais comuns que levam algumas pessoas a tirar conclusões tão apressadas e insensatas.

Pegadas na Lua

Dúvida

As pegadas dos astronautas deixam marcas bem definidas na Lua. Na Terra, marcam assim tão bem feitas só acontecem em solo úmido, como na beira da praia, quando nossos sapatos imprimem as marcas do solado em detalhes na areia molhada.

Charles DukeCHARLES DUKE, O 10º HOMEM

Charles Duke nasceu em 3 de outubro de 1935 na Carolina do Norte e foi o décimo entre os doze únicos seres humanos que até hoje tiveram o privilégio de pisar na superfície de outro mundo.

Formado pela Academia Naval, Duke seguiu para a Força Aérea onde foi piloto de caça inteceptador até ser selecionado, em 1965, para fazer parte da quinta turma de astronautas da NASA.

Duke foi o piloto suplente do módulo lunar da Apollo 13 (que não atingiu seu objetivo de pousar na Lua) e em abril de 1972 teve sua oportunidade de pisar no solo lunar ao lado de John W. Young, durante a bem sucedida missão Apollo 16. Ele voltaria a ser suplente na Apollo 17 antes de deixar a NASA em dezembro de 1975.

Pegada
O PRIMEIRO PASSO  Pegada de Neil Armstrong na Lua, uma das inúmeras marcas que deixamos no satélite. Clique para ampliar. Foto da NASA.

Conspiração

Só que na Lua não existe umidade! Pegadas formadas no pó lunar ultra seco se desmanchariam, não manteriam a forma do solado das botas do astronauta. Marca irrefutável de que tudo não passou de uma fraude.

Realidade

Não apenas umidade permite a formação de pegadas. É preciso levar em consideração a rugosidade dos grãos do solo também. Grãos altamente rugosos podem manter uma “impressão”. A rugosidade faz com que esses grãos se encaixem uns nos outros e mantenham a forma de uma pegada, por exemplo, até com mais eficiência que a umidade conseguiria manter [1].

O site do Projeto Ockham (infelizmente já desativado) forneceu um relato ainda mais detalhado, explicando que a superfície lunar é predominantemente composta por materiais que se enquadram na categoria dos silicatos. E a sílica tem uma tendência natural de se relacionar com outras sílicas, formando grandes cadeias moleculares.

Quando estas cadeias são rompidas, digamos, pelo impacto de uma bota, suas extremidades ficam livres para se combinar com outros elementos. Na Terra elas rapidamente se combinariam com o oxigênio do ar formando óxidos (processo conhecido por oxidação), mas na Lua, sem uma atmosfera gasosa, as partículas acabam por se recombinar com as outras partículas vizinhas deslocadas pelo impacto, como se fossem – mal comparando – um longo velcro de moléculas que se rearruma[2].

Assim, é possível formar pegadas apesar da ausência de água na Lua. E elas não estão somente nos pés dos astronautas que lá estiveram. Os rovers soviéticos, como o Lunokhod 1 (abaixo), enviados na mesma época das missões Apollo, também deixaram suas marcas.

Lunokhod
TRILHAS LUNARES deixadas pelo veículo Lunokhod 1, integrante da missão soviética Luna 17, em 1970. Veja mais imagens.

Outra variante dessa conspiração afirma que o Módulo Lunar (LM), que pesava cerca de 17 toneladas, deveria ter deixado uma impressão mais profunda que os pés dos astronautas no solo lunar, ao contrário do que as fotografias parecem indicar.

Só que, em primeiro lugar, esse era o peso do LM da Terra (quando totalmente abastecido). Seu peso sob a gravidade da Lua se reduz para cerca de 1.200 kg. Com as quatro sapatas de 94 cm de diâmetro cada, a carga sobre a superfície era de cerca de 439 kgf/m².

Já o peso de Neil Armstrong na Lua foi de 26 kg. Suas botas cobriam uma área de cerca de 30,5 cm² (ou 1 pé quadrado), resultando numa carga de 283 kgf/m².

Nas próprias palavras de Armstrong “as sapatas do LM se enterraram 1 ou 2 polegadas na superfície”. Já as pegadas dos astronautas se aprofundavam apenas por uma fração de polegada – embora muitas vezes se exagere essa profundidade.

PATRONO
Urania Planetario

O módulo desaparecido

Dúvida

Há fotografias diferentes que mostram um mesmo fundo montanhoso, mas uma exibe o LM e a outra não. Como isso é possível?

LM Missing

Conspiração

Obviamente o módulo lunar deveria estar nas duas imagens, já que não saiu do lugar durante toda a missão na superfície lunar. Se só está visível em uma foto, revela claramente que a NASA utilizou o mesmo fundo falso duas vezes, por descuido ou achando que ninguém notaria!

Realidade

É precipitado afirmar que duas fotos foram tiradas precisamente no mesmo local com base apenas em um distante fundo montanhoso. Repare, por exemplo, nas duas fotos abaixo [3,4].

Mesmo fundo

A primeira mostra uma pequena árvore em primeiro plano no lado esquerdo. A foto à direita não. As montanhas distantes mostram o mesmo fundo, mas a cerca em primeiro plano denuncia uma mudança lateral na posição do fotógrafo.

Você mesmo pode reproduzir esse experimento facilmente. Tire uma foto do seu carro, por exemplo, com uma paisagem distante ao fundo. Depois, se desloque lateralmente algumas dezenas de metros e tire uma nova foto do mesmo fundo distante. Seu carro sumiu do enquadramento, mas o fundo é o mesmo.

Onde está o mistério?

O MÓDULO SUMIU apenas do enquadramento, porque o astronauta caminhou para o lado e fotografou as mesmas montanhas à distância. Fonte: Astronomy Roadshow [5].

Continua…

 

Doze homens e uma conspiração
Did we land on the Moon? 

Referências (fontes consultadas)
• [1] A Fraude da Fraude do Século. Página do Zeca. Disponível em <http://zeca.astronomos.com.br/afraudedafraude/afraudedafraude.htm>. Acesso em 30 set 2015.
• [2] Os argumentos físicos (I). Projeto Ockham. Disponível em <http://www.projetoockham.org/historia_lua_4.html>. Acesso em 30 set 2015.
• [3] Os argumentos fotográficos (II). Projeto Ockham. Disponível em <http://www.projetoockham.org/historia_lua_3.html>. Acesso em 30 set 2015.
• [4] Did we land on the moon? Theories with problems by Keith Mayes. Disponível em <http://www.thekeyboard.org.uk/Did we land on the Moon.htm>. Acesso em 30 set 2015.
• [5] Missing Lunar Modules. Astronomy Roadshow. Disponível em <http://www.moonlandinghoax.org/11.html>. Acesso em 30 set 2015.
Publicação em mídia impressa
Costa, J. R. V. Doze homens e uma conspiração. Tribuna de Santos, Santos, 30 out 2006. Caderno de Ciência e Meio Ambiente, p. E-2.
Créditos: Costa, J.R.V. Doze homens e uma conspiração - 10. Astronomia no Zênite, 11 out. 2015. Disponível em: <https://zenite.nu/doze-homens-e-uma-conspiracao-10>. Acesso em: 24 abr. 2024.
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