Surfshark
Astronomia no Zênite
Astronáutica - Os pioneiros

À luz de uma lua vermelha – 3ª Parte

Em maio de 1965 é criado um novo ministério destinado a supervisionar o programa espacial soviético, que tinha agora como objetivo uma alunissagem tripulada em 1968. Para tal foram selecionados 22 novos cosmonautas em outubro de 1965. O complexo L3 seria composto por dois veículos: o Lunniy Orbitalniy Korabl (LOK) que serviria como nave mãe durante a viagem lunar, e o Lunniy Kabina (LK), ou módulo lunar.

LOK
LOK era o veículo que transportaria dois cosmonautas até à órbita lunar.

PATRONO
Urania Planetario

Em órbita lunar um dos cosmonautas seria transferido para o LK e iniciaria a descida até à superfície. O cosmonauta realizaria suas atividades de exploração lunar sozinho, e no final o LK regressaria com o cosmonauta até ao LOK.

O LK seria então descartado e ficaria em órbita lunar, decaindo naturalmente. O LOK acionaria os seus motores e regressaria á Terra em três dias, onde um grandioso desfile aguardaria os heróis na Praça Vermelha.

Para aumentar a margem de segurança da missão, foi decidido lançar um conjunto N1/L3 não tripulado até ao local da futura alunagem deixando aí um veículo LK para ser usado caso se verificasse alguma avaria no veículo utilizado pelo cosmonauta durante a alunissagem.

Só no início de 1965 é que Chelomei inicia a construção do LK-1, mas desde cedo o programa enfrentou problemas técnicos devido à falta de experiência na construção de veículos tripulados.

Além disso, Korolev alegava que o veículo circunlunar deveria testar os mesmos sistemas e lançadores que seriam utilizados no programa L3 para poupar tempo e dinheiro. A Soyuz poderia ser adotada para este fim. A proposta de Korolev acabou sendo aceita. E Korolev acabaria por assumir todo o controle do programa no natal de 1965.

Traje Krechet
O TRAJE Krechet, que seria utilizado durante uma exploração do solo lunar. Foto cedida por Andy Salmon.

A morte de Korolev

Em 14 de janeiro de 1966 Korolev morre durante uma cirurgia. Uma morte inesperada que rouba do programa espacial soviético o seu principal mentor. Só agora, ao se realizar um funeral com honras de chefe de Estado, Korolev se tornara conhecido no mundo inteiro. Suas cinzas foram depositadas no muro do Kremlin.

Mishin, que trabalhava com Korolev desde 1945, sucede o projetista-chefe, mas nunca chega a ter tanta influência e conhecimentos políticos como seu antecessor. Lutas contínuas entre os vários ministérios governamentais, e entre os vários laboratórios, abrandam o progresso do programa lunar.

Em maio de 1966, o gigante Saturno V, todas as instalações associadas e a infraestrutura de serviço e suporte estão prontas para os primeiros testes. Apesar de chegarem mais tarde à Lua, as sondas Surveyor e Lunar Orbiter são mais avançadas do que as sondas Luna, e realizam dez missões com sucesso em apenas quinze meses.

O Programa Gemini foi um sucesso e nas suas dez missões tripuladas testaram-se todas as técnicas e sistemas necessários para uma missão lunar, como os encontros orbitais (Gemini 6 e Gemini 7), as acoplagens (Gemini 8), as saídas para o espaço (Gemini 4) e o voo de longa duração (Gemini 5).

Na União Soviética, a missão Voskhod 3 é adiada por dois meses e posteriormente cancelada semanas antes do lançamento. O mesmo acaba acontecendo com os outros voos da Voskhod, para que fossem poupados fundos e esforços na preparação da primeira missão Soyuz.

A estação de batalha lançada por Khrushchov (e suspensa desde sua queda do poder) é cancelada, sendo substituída por uma versão reduzida chamada Almaz. O Programa Almaz estava a cargo de Chelomei, que agora utilizaria as cápsulas construídas para o LK-1 sem, no entanto, deixar de propor o seu programa de exploração lunar.

Apollo 1 & Soyuz 1

O ano de 1967 foi decisivo na corrida para a Lua, tanto para o programa americano quanto para o soviético. A pressão em ambos os lados era enorme e a corrida para a Lua ia ganhando velocidade.

Em 27 de janeiro, Virgil Ivan Grissom, Edward Higgins White e Roger Bruce Chaffee entram na cápsula da Apollo 1 para a realização de um chamado “teste sem fios” (plug-out test), no qual se simulariam todos os passos e procedimentos a levar a cabo durante a contagem decrescente para o lançamento da primeira missão tripulada do Programa Apollo.

Encerrados no interior da cápsula com uma atmosfera rica em oxigênio, os três homens não tiveram qualquer hipótese de sobrevivência quando um curto-circuito transformou o interior num verdadeiro inferno.

Tripulação da Apollo 1
TRIPULAÇÂO da Apollo 1. Da esquerda para direita, Edward White, Virgil “Gus” Grissom e Roger Chaffee.

O acidente da Apollo 1 atrasaria o programa por longos meses e apresentaria uma boa hipótese da União Soviética voltar a tomar a dianteira na corrida para a Lua.

O elemento crucial do programa espacial soviético era agora a cápsula Soyuz. Este veículo, muito mais avançado do que as suas antecessoras, podia alterar a sua órbita e realizar encontros e acoplagens com outros veículos.

Tinha a capacidade de efetuar missões de várias semanas e as suas variantes poderiam realizar missões circunlunares (L1) ou então ser o elemento principal de uma missão destinada a colocar cosmonautas na superfície da Lua (LOK).

Em 15 de abril de 1967 é lançada a cápsula Soyuz 1, tripulada pelo cosmonauta veterano Vladimir M. Komarov (1924-1967). Komarov tripulava um veículo contendo 203 falhas detectadas nos testes finais e desde cedo o seu voo ficou condenado.

Com sensores defeituosos e um painel solar que não se abriu após a entrada em órbita, a Soyuz 1 transformara-se num “caixão” para Komarov. Quando finalmente o cosmonauta conseguiu reorientar a cápsula e reentrar na atmosfera terrestre, deu-se um problema com os paraquedas e a cápsula acabou por se esmagar no solo a uma velocidade entre 35 e 40 metros por segundo.

Tragédia
TRAGÉDIA  Aspecto do local de impacto da Soyuz-1. Nesta imagem é visível o escudo térmico do veículo no lado esquerdo, parte do paraquedas à direita e a escotilha de acesso ao centro.

Posteriormente descobriu-se que caso se tivesse decidido lançar a Soyuz 2, como era intenção de alguns engenheiros, os seus três tripulantes iriam sofrer a mesma sorte de Komarov. O desastre da Soyuz 1 veio trazer um atraso de dois anos para o programa lunar L3.

Missões circunlunares

O desastre da Soyuz 1 teve repercussões no programa L1 e os testes só foram retomados em setembro e novembro de 1967. Problemas com o lançador Proton impediram vários lançamentos e a intenção original de comemorar a revolução de outubro foi abandonada.

Em 1967 e 1968 os soviéticos decidiram concentrar esforços no programa L1. Nesta altura a União Soviética sabia que já seria difícil vencer os Estados Unidos na corrida para o primeiro homem na Lua, mas em voo circunlunar tripulado antes dos americanos ainda lhes traria alguma glória.

Quinze veículos do tipo L1 foram construídos, mas apenas dois deles estavam equipados para transportar cosmonautas. Os restantes iriam transportar experiências e amostras biológicas até à órbita lunar. As missões serviriam para efeitos de propaganda e testes de sistemas a serem posteriormente usados para colocar os primeiros cosmonautas na superfície lunar.

Na reta final

A tragédia com a Apollo 1 já tinha ficado para trás e os Estados Unidos apresentavam uma nova cápsula, renovada e melhorada. Este novo veículo e o seu lançador encontravam-se prontos para os primeiros voos tripulados e a NASA anuncia um plano que prevê a primeira missão circunlunar em dezembro de 1968.

O anúncio da missão Apollo 8 é originado pelo receio dos diretores do programa americano de que os soviéticos tentem uma missão lunar a qualquer momento.

E, de fato, em setembro de 1968 a Zond 5 torna-se o primeiro veículo L1 a orbitar a Lua, causando grande alarme na NASA quando o Observatório de Jordell Bank detecta uma voz humana emitida a partir da sonda (!); o que logo se revelou um teste para avaliar o sistema de comunicações.

A missão da Zond 5 decorre sem problemas, retornando no Oceano Índico em 21 de setembro, onde foi recolhido por um navio da marinha soviética.

Resgate da Zonda 5
O RESGATE da cápsula Zond 5.

Os espécimes biológicos no seu interior tinham sobrevivido, tornando-se assim as primeiras tartarugas e moscas da banana a orbitar a Lua! Com o sucesso da Zond 5, os soviéticos divulgaram informações confirmando que os voos da Zond tinham como objetivo testar uma versão automática de um veículo lunar tripulado. A notícia espalhou calafrios por toda a NASA.

O último passo antes de um voo soviético tripulado em torno da Lua era a concretização da missão Zond 6. A janela de lançamento abria-se primeiro aos soviéticos, em dezembro de 1968, que assim podiam se antecipar aos americanos em alguns dias.

O voo da Zond

O lançamento da Zond 6 ocorre sem problemas em 10 de novembro, atingindo a vizinhança lunar no dia 14. Mas o infortúito chega no dia do regresso, 17 de novembro.

Devido a uma falha numa válvula de borracha, a cápsula despressuriza-se horas antes da reentrada, resultando na morte de todos os espécimes biológicos a bordo. Após a reentrada, os paraquedas se abrem cedo demais e a cápsula se despedaça sobre território soviético. Como era usual, as autoridades soviéticas não revelaram o acidente, aclamando o sucesso na missão.

Mais tarde, os cosmonautas em treino para as missões L1 escreveram uma carta dirigida aos dirigentes políticos soviéticos solicitando autorização para realizar uma missão circunlunar tripulada, tendo inclusive viajado para Baikonur para finalizar os preparativos para o voo. Mas a autorização nunca chegou.

Os americanos Frank Frederick Borman, James Arthur Lowell e William Alison Anders tornaram-se nos primeiros homens a orbitar a Lua na missão Apollo – Saturno 8, em dezembro de 1968. Com o sucesso da Apollo 8, o programa L1 deixou de ser uma prioridade e todos os voos tripulados foram suspensos.

Não conseguindo orbitar a Lua primeiro que os americanos, o foco do programa espacial soviético é agora apontado para o programa N1/L3 com o objetivo de colocar um cosmonauta na superfície lunar.

Continue lendo…

 

Missão Soyuz 1
Missões espaciais

Créditos: Barbosa, R.C. À luz de uma lua vermelha - 3ª Parte. Astronomia no Zênite, jul. 2007. Disponível em: <https://zenite.nu/a-luz-de-uma-lua-vermelha-3>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Como citar esta página como uma fonte da sua pesquisa

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, a forma indicada para mostrar que você pesquisou o artigo contido nesta página é:

 

As referências bibliográficas são importantes não apenas para dar crédito aos autores de suas fontes, mas para mostrar a sua habilidade em reunir elementos que constroem uma boa pesquisa. Boas referências só valorizam o seu trabalho.