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Novidades do Espaço Exterior – Ano III – Nº 131

Novidades do Espaço ExteriorAntena
 Ano III – Nº 131

VLS explode na plataforma de lançamento

 Folha On Line e CNN – 22 de agosto de 2003

O VLS-1 V03, terceiro protótipo do primeiro Veículo Lançador de Satélites brasileiro, que seria lançado segunda-feira do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA, no Maranhão) explodiu no início da tarde desta sexta-feira, dia 22, na plataforma de lançamento.

Vinte e um civis morreram. Eram todos técnicos e engenheiros do Centro Técnico Aeroespacial (CTA, de São José dos Campos/SP) que estavam realizando testes de pré-lançamento no veículo.

O Ministro da Defesa, José Viegas, afirmou que a causa mais provável da tragédia, segundo dados preliminares do CLA, tenha sido a ignição de um dos quatro motores do foguete. Não houve danos causados a pessoas ou instalações fora da área do Centro de Lançamento, mas toda plataforma foi destruída.

Operação São Luís
O VLS-1 V03 fazia parte da Operação São Luís, integrante do programa de desenvolvimento de veículos lançadores de pequeno porte, previsto pelo Programa Nacional de Atividades Espaciais.

O VLS-1 pode inserir carga úteis de até 300 kg em órbitas baixas, mas o programa também prevê a criação de um novo modelo, o VLS-2, com capacidade de 600 kg.

A missão do VLS-1 V03 seria colocar em órbita equatorial, a cerca de 750 km de altitude, dois satélites de fabricação nacional, o Satec – desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e o Unosat – nanossatélite desenvolvido por estudantes e professores da Universidade Norte do Paraná.

Nos dois lançamentos anteriores do VLS-1, em 1997 e em 1999, os veículos foram destruídos momentos após a decolagem devido a problemas técnicos.

Acordo Internacional
O CLA é a base de lançamentos mais próxima da linha do Equador já construída, o que permite lançamentos com grande economia de combustível e cargas úteis mais pesadas, pelo aproveitamento máximo das forças centrífugas da rotação da Terra.

Em julho, o governo brasileiro assinou um acordo com a Ucrânia, prevendo que Alcântara será a base de lançamento dos foguetes Cyclone. Valeriy Komarov, diretor da Agência Espacial Ucraniana (NSAU) e representante de uma delegação daquele país que está no Brasil para discutir um acordo de cooperação científica, afirmou que a explosão do protótipo não vai ser um obstáculo para a continuidade da parceria.

O acordo firmado entre os dois países pode impulsionar a duplicação da capacidade de carga do VLS.

Falha humana?
Um lançamento bem sucedido do VLS-1 V03 tornaria o Brasil o primeiro país da América Latina a colocar satélites em órbita com recursos inteiramente próprios (incluindo a fabricação do satélite, o veículo lançador e sua base de lançamentos).

O major-brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, criador do projeto VLS, acredita em falha humana. “Pela experiência de mais de 30 anos, acredito que houve falha de manuseio. O acidente não foi no ponto crítico usual, que é o lançamento”, afirmou.

O programa do lançador de satélites brasileiro foi contestado pelos Estados Unidos por abrir a possibilidade de o país usar a tecnologia em mísseis balísticos, mas Piva não acredita em sabotagem do programa. “Possibilidade existe, mas é muito pouco provável.”, declara o brigadeiro.

Piva estima que a destruição do VLS deve atrasar o projeto em pelo menos um ano. “Tenho medo dos imediatistas que podem dizer que não devemos mais investir no programa. Se formos um país que pretende desenvolver alta tecnologia, a falha atual seria até um incentivo para continuarmos”.

O futuro
O Presidente da República afirmou que o programa espacial brasileiro continua sendo prioridade e não vai ser interrompido devido ao acidente. A tragédia recente, no entanto, coloca o Brasil paradoxalmente na lista das nações que perderam vidas humanas em testes de veículos espaciais em Terra.

Isso inclui os Estados Unidos, Rússia, China e alguns membros da União Européia – todas nações que hoje ocupam lugar de destaque no desenvolvimento de tecnologia espacial. Precisamos continuar.